the zero theorem | terry gilliam

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Curiosamente, Gilliam parece não ter visto muitos sci-fi nos últimos anos. Só isso pode explicar o tempo e os recursos desperdiçados num projeto que não faz nada, além de tentar requentar – e muito mal – ideias tão batidas quanto as vistas aqui.

Vamos lá: obsessão matemática e a busca por um sentido maior no amor e no amplo espectro das coisas foram muito, mas muito melhor trabalhadas em Pi e The Fountain, dois filmões de Aronofsky. Distopias, identidade, realidades alternativas, uso errado da tecnologia e destino foram temas melhor abordados por pelo menos 978569 produções nos anos 00, indo do excelente Moon, passando pelo histérico, mas eficiente Matrix e chegando a obras-primas do sci-fi recente, como Primer e Upstream Color. 

Cada um desses filmes mencionados – e muitos outros – estabeleceram visões muito particulares e, em alguns casos, idiossincráticas de temas muito muito universais. Infelizmente, nada na visão de The Zero Theorem contribui para o estabelecimento de uma nova perspectiva ou aprofundamento da discussão sobre as questões levantadas por ele mesmo. Tudo foi absolutamente melhor tratado e amarrado em produções anteriores e recentes.

O humor de Gilliam até continua afiado. Sacadas geniais, como a Igreja do Batman Redentor e o diálogo que faz uma referência para lá de sarcástica ao já mencionado Matrix, trazem um pouco do sarcasmo do Monty Pyhton para dentro do universo distópico criado por ele. Por outro lado, o diretor utiliza nível de sutileza Regina Casé quando constrói suas analogias. A câmera substitui a cabeça de um Cristo crucificado e vigia o protagonista permanentemente. O vazio interior do protagonista é sempre representado por um ameaçador buraco negro saído de algum filme de Malick. O paraíso é representado por uma ilha tropical repleta de cores quentes durante o entardecer. E por aí vai…

O design de produção também é irregular. Por um lado, acerta muito ao criar um universo retrô-futurístico (bem parecido com o de Twelve Monkeys) e steampunk decorado pela mesma paleta de cores de Candy Crush. Por outro, irrita em dedicar tanto tempo de tela às imagens CGI do código em que o protagonista trabalha, por sua vez tão visualmente interessantes quanto as vinhetas do Hans Donner para a programação da TV Globo de 1987.

Pois é, queria muito ter gostado de The Zero Theorem. Considerava- o um dos must-sees do ano.  Infelizmente, o filme diverte às vezes e irrita quase sempre. O visual até enche os olhos, mas narrativamente falando a única qualidade dele é me dar saudades de outros filmes que estabeleceram visões muito mais intrigantes dos mesmos temas.

2 opiniões sobre “the zero theorem | terry gilliam

  1. Isso que você escreveu é mais ou menos o que senti quando assisti Dr. Parnassus. Minha impressão é que T. Gilliam, um cineasta acostumado aos efeitos especiais “orgânicos” (vide as animações dele), nunca soube como dosar bem o uso do CGI. Mas se você ainda quiser dar um crédito ao cara, vale ver Tideland, ultimo filme bom dele, estranhíssimo e sem uma gota de CGI.

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